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Autor | Mensagem |
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Isabel Santos Novato
Data de inscrição : 23/01/2010 Número de Mensagens : 239
| Assunto: Fernando Pessoa Qua Fev 10, 2010 10:18 pm | |
| Olá Tina, Quem não conhece Fernando Pessoa? Mas tudo bem aqui vai a foto. E mais um poema que os jovens do secundário gostam muito | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Fev 10, 2010 10:32 pm | |
| Fernando Pessoa, um dos expoente máximos do modernismo no século XX, considerava-se a si mesmo um «nacionalista místico». Nasceu Fernando António Nogueira Pessoa em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888, filho de Maria Madalena Pinheiro Nogueira e de Joaquim de Seabra Pessoa. A juventude é passada em Lisboa, alegremente, até à morte do pai em 1893 e do irmão Jorge no ano seguinte. Estes acontecimentos, em conjunto com o facto de sua mãe ter conhecido o cônsul de Portugal em Durban, levam-no a viajar para a África do Sul. Aí vive entre 1896 e 1905. À vivência nesse país da Commonwealth pode atribuir-se uma influência decisiva ao nível cultural e intelectual, pondo-o em contacto com os grandes autores de língua inglesa. O Regresso a Portugal, com 17 anos, é feito com o intuito de frequentar o curso de Letras. Mas com o fracasso do curso (frequentou-o poucos meses), governa-se apenas com o seu grande conhecimento da língua inglesa, trabalhando com diversos escritórios em Lisboa em assuntos de correspondência comercial. Ficou sobretudo conhecido como grande prosador do modernismo (ou futurismo) em Portugal. Expressando-se tanto com o seu próprio nome, como através dos seus heterónimos. Entre estes ficaram famosos três: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Fernando Pessoa morre a 30 de Novembro de 1935, de uma grave crise hepática induzida por anos de consumo de álcool, no hospital de S. Luís. Em vida apenas publicou um livro em Português: o poema épico Mensagem, deixando um vasto espólio que ainda hoje não foi completamente analisado e publicado. | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Fev 10, 2010 10:34 pm | |
| Teus Olhos Entristecem Teus olhos entristecem Nem ouves o que digo. Dormem, sonham esquecem... Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste, Te disse tanta vez... Creio que nunca o ouviste De tão tua que és.
Olhas-me de repente De um distante impreciso Com um olhar ausente. Começas um sorriso.
Continuo a falar. Continuas ouvindo O que estás a pensar, Já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso Sumir da tarde fútil, Se esfolha silencioso O teu sorriso inútil.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Fev 10, 2010 11:12 pm | |
| O que Me Dói não É O que me dói não é O que há no coração Mas essas coisas lindas Que nunca existirão...
São as formas sem forma Que passam sem que a dor As possa conhecer Ou as sonhar o amor.
São como se a tristeza Fosse árvore e, uma a uma, Caíssem suas folhas Entre o vestígio e a bruma.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Fev 10, 2010 11:13 pm | |
| Sorriso Audível das Folhas
Sorriso audível das folhas Não és mais que a brisa ali Se eu te olho e tu me olhas, Quem primeiro é que sorri? O primeiro a sorrir ri.
Ri e olha de repente Para fins de não olhar Para onde nas folhas sente O som do vento a passar Tudo é vento e disfarçar.
Mas o olhar, de estar olhando Onde não olha, voltou E estamos os dois falando O que se não conversou Isto acaba ou começou?
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Fev 10, 2010 11:15 pm | |
| Liberdade Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não fazer! Ler é maçada, Estudar é nada. Sol doira Sem literatura O rio corre, bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma, Esperar por D.Sebastião, Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Fev 10, 2010 11:16 pm | |
| Não Digas Nada!
Não digas nada! Nem mesmo a verdade Há tanta suavidade em nada se dizer E tudo se entender — Tudo metade De sentir e de ver... Não digas nada Deixa esquecer
Talvez que amanhã Em outra paisagem Digas que foi vã Toda essa viagem Até onde quis Ser quem me agrada... Mas ali fui feliz Não digas nada.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Fev 10, 2010 11:17 pm | |
| Pobre Velha Música!
Pobre velha música! Não sei por que agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te, Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" | |
| | | Isabel Santos Novato
Pais Residente : Localização : Almada - Charneca de Caparica Data de inscrição : 23/01/2010 Número de Mensagens : 239 Idade : 64 Humor : Conforme o tempo
| Assunto: Fernando Pessoa Qui Fev 11, 2010 10:45 pm | |
| Estátua de Fernando Pessoa no café A Brasileira, localizado junto ao Largo do Chiado, em Lisboa. Pessoa, para além de poeta, foi um grande pensador, um grande filósofo. Escreveu poemas com conteúdos completamente díspares, atribuindo a sua autoria a vários heterónimos que ele criou. Mas foi ainda mais longe, para cada um desses heterónimos, ele imaginou uma biografia de forma a harmonizá-la com o conteúdo desses poemas. Enfim, uma forma perfeita de demonstrar que o pensamento de cada ser humano está inexoravelmente ligado à sua vivência. Um dos heterónimos de Fernando Pessoa é Álvaro de Campos... | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: ALMEIDA GARRETTT Ter Fev 16, 2010 3:00 pm | |
| ALMEIDA GARRETTJoão Baptista da Silva Leitão de Almeida e mais tarde visconde de Almeida Garrett, (Port, 4 de Fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de Dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, Par do Reino, ministro e secretário de Estado honorário português. Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.Na poesia, Garrett não foi menos inovador. As duas coletâneas publicadas na última fase da sua vida (Flores sem fruto, de 1844, e sobretudo Folhas caídas, de 1853) introduziram uma espontaneidade e uma simplicidade praticamente desconhecidas na poesia portuguesa anterior.
Ao lado de poemas de exaltada expressão pessoal surgem pequenas obras-primas de singeleza ímpar como «Pescador da barca bela», próximas da poesia popular quando não das cantigas medievais. Barca Bela Pescador da barca bela, Onde vais pescar com ela. Que é tão bela, Oh pescador? Não vês que a última estrela No céu nublado se vela? Colhe a vela, Oh pescador!Deita o lanço com cautela, Que a sereia canta bela... Mas cautela, Oh pescador!Não se enrede a rede nela, Que perdido é remo e vela Só de vê-la, Oh pescador.Pescador da barca bela, Inda é tempo, foge dela Foge dela Oh pescador! | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Ter Fev 16, 2010 3:09 pm | |
| DESTINO
Quem disse à estrela o caminho Que ela há-de seguir no céu? A fabricar o seu ninho Como é que a ave aprendeu? Quem diz à planta – “Floresce!” - E ao mudo verme que tece Sua mortalha de seda Os fios quem lhos enreda? Ensinou alguém à abelha Que no prado anda a zumbir Se à flor branca ou à vermelha O seu mel há-de ir pedir? Que eras tu meu ser, querida, Teus olhos a minha vida, Teu amor todo o meu bem… Ai! não mo disse ninguém. Como a abelha corre ao prado, Como no céu gira a estrela, Como a todo o ente o seu fado Por instinto se revela, Eu no teu seio divino Vim cumprir o meu destino… Vim, que em ti só sei viver, Só por ti posso morrer.
Almeida Garrett | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Ter Fev 16, 2010 3:55 pm | |
| Seus Olhos
Seus olhos --- se eu sei pintar O que os meus olhos cegou --- Não tinham luz de brilhar. Era chama de queimar; E o fogo que a ateou Vivaz, eterno, divino, Como facho do Destino.
Divino, eterno! --- e suave Ao mesmo tempo: mas grave E de tão fatal poder, Que, num só momento que a vi, Queimar toda alma senti... Nem ficou mais de meu ser, Senão a cinza em que ardi.
Almeida Garrett | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Fev 17, 2010 10:48 pm | |
| As Minhas Asas Eu tinha umas asas brancas, Asas que um anjo me deu, Que, em me eu cansando da terra, Batia-as, voava ao céu.
— Eram brancas, brancas, brancas, Como as do anjo que mas deu: Eu inocente como elas, Por isso voava ao céu. Veio a cobiça da terra, Vinha para me tentar; Por seus montes de tesouros Minhas asas não quis dar. — Veio a ambição, co'as grandezas, Vinham para mas cortar, Davam-me poder e glória; Por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas brancas, Asas que um anjo me deu, Em me eu cansando da terra, Batia-as, voava ao céu.
Mas uma noite sem lua Que eu contemplava as estrelas, E já suspenso da terra, Ia voar para elas, — Deixei descair os olhos Do céu alto e das estrelas... Vi entre a névoa da terra, Outra luz mais bela que elas.
E as minhas asas brancas, Asas que um anjo me deu, Para a terra me pesavam, Já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essas luz funesta De enfeitiçados amores... Fatal amor, negra hora Foi aquela hora de dores!
— Tudo perdi nessa hora Que provei nos seus amores O doce fel do deleite, O acre prazer das dores.
E as minhas asas brancas, Asas que um anjo me deu, Pena a pena me caíram... Nunca mais voei ao céu.
|
Almeida Garrett | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
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| Assunto: Re: Poetas Portugueses Sex Fev 26, 2010 1:25 am | |
| Beleza
Vem do amor a Beleza, Como a luz vem da chama. É lei da natureza: Queres ser bela? - ama.
Formas de encantar, Na tela o pincel As pode pintar; No bronze o buril As sabe gravar; E estátua gentil Fazer o cinzel Da pedra mais dura... Mas Beleza é isso? - Não; só formosura.
Sorrindo entre dores Ao filho que adora Inda antes de o ver - Qual sorri a aurora Chorando nas flores Que estão por nascer – A mãe é a mais bela das obras de Deus. Se ela ama! - O mais puro do fogo dos céus Lhe ateia essa chama de luz cristalina:
É a luz divina Que nunca mudou, É luz... é a Beleza Em toda a pureza Que Deus a criou.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Ter Mar 02, 2010 1:54 am | |
| A um Amigo
Fiel ao costume antigo, Trago ao meu jovem amigo Versos próprios deste dia. E que de os ver tão singelos, Tão simples como eu, não ria: Qualquer os fará mais belos, Ninguém tão d’alma os faria.
Que sobre a flor de seus anos Soprem tarde os desenganos; Que em torno os bafeje amor, Amor da esposa querida, Prolongando a doce vida Fruto que suceda à flor.
Recebe este voto, amigo, Que eu, fiel ao uso antigo, Quis trazer-te neste dia Em poucos versos singelos. Qualquer os fará mais belos, Ninguém tão d’alma os faria.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
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| Assunto: Re: Poetas Portugueses Dom Mar 07, 2010 3:25 pm | |
| Os Cinco Sentidos
São belas - bem o sei, essas estrelas, Mil cores - divinais têm essas flores; Mas eu não tenho, amor, olhos para elas: Em toda a natureza Não vejo outra beleza Senão a ti - a ti!
Divina - ai! sim, será a voz que afina Saudosa - na ramagem densa, umbrosa. será; mas eu do rouxinol que trina Não oiço a melodia, Nem sinto outra harmonia Senão a ti - a ti!
Respira - n'aura que entre as flores gira, Celeste - incenso de perfume agreste, Sei... não sinto: minha alma não aspira, Não percebe, não toma Senão o doce aroma Que vem de ti - de ti!
Formosos - são os pomos saborosos, É um mimo - de néctar o racimo: E eu tenho fome e sede... sequiosos, Famintos meus desejos Estão... mas é de beijos, É só de ti - de ti!
Macia - deve a relva luzidia Do leito - ser por certo em que me deito. Mas quem, ao pé de ti, quem poderia Sentir outras carícias, Tocar noutras delícias Senão em ti! - em ti!
A ti! ai, a ti só os meus sentidos Todos num confundidos, Sentem, ouvem, respiram; Em ti, por ti deliram. Em ti a minha sorte, A minha vida em ti; E quando venha a morte, Será morrer por ti.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
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| Assunto: Re: Poetas Portugueses Sáb Mar 13, 2010 12:50 am | |
| Preito
É lei do tempo, Senhora, Que ninguém domine agora E todos queiram reinar. Quanto vale nesta hora Um vassalo bem sujeito, Leal de homenage e preito E fácil de governar?
Pois o tal sou eu, Senhora: E aqui juro e firmo agora Que a um despótico reinar Me rendo todo nesta hora, Que a liberdade sujeito... Não a reis! - outro é meu preito: Anjos me hão-de governar.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 6:15 pm | |
| Rosa Pálida
Rosa pálida, em meu seio Vem, querida, sem receio Esconder a aflita cor. Ai!, a minha pobre rosa! Cuida que é menos formosa Porque desbotou de amor.
Pois sim... quando livre, ao vento, Solta de alma e pensamento, Forte de tua isenção, Tinhas na folha incendida O sangue, o calor e a vida Que ora tens no coração.
Mas não eras, não, mais bela, Coitada, coitada dela, A minha rosa gentil! Coravam-na então desejos, Desmaiam-na agora os beijos... Vales mais mil vezes, mil.
Inveja das outras flores! Inveja de quê, amores? Tu, que vieste dos Céus, Comparar tua beleza Às filhas da natureza! Rosa, não tentes a Deus.
E vergonha!... de quê, vida? Vergonha de ser querida, Vergonha de ser feliz! Porquê?... porquê em teu semblante A pálida cor da amante A minha ventura diz?
Pois, quando eras tão vermelha Não vinha zângão e abelha Em torno de ti zumbir? Não ouvias entre as flores Histórias dos mil amores Que não tinhas, repetir?
Que hão-de eles dizer agora? Que pendente e de quem chora É o teu lânguido olhar? Que a tez fina e delicada Foi, de ser muito beijada, Que te veio a desbotar?
Deixa-os: pálida ou corada, Ou isenta ou namorada, Que brilhe no prado flor, Que fulja no céu estrela, Ainda é ditosa e bela Se lhe dão só um amor.
Ai!, deixa-os, e no meu seio Vem, querida, sem receio Vem a frente reclinar. Que pálida estás, que linda! Oh!, quanto mais te amo ainda Dês que te fiz desbotar.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 6:18 pm | |
| Estes Sítios
Olha bem estes sítios queridos, Vê-os bem neste olhar derradeiro... Ai! o negro dos montes erguidos, Ai! o verde do triste pinheiro! Que saudade que deles teremos... Que saudade! ai, amor, que saudade! Pois não sentes, neste ar que bebemos, No acre cheiro da agreste ramagem, Estar-se alma a tragar liberdade E a crescer de inocência e vigor! Oh! aqui, aqui só se engrinalda Da pureza da rosa selvagem, E contente aqui só vive Amor. O ar queimado das salas lhe escalda De suas asas o níveo candor, E na frente arrugada lhe cresta A inocência infantil do pudor. E oh! deixar tais delícias como esta! E trocar este céu de ventura Pelo inferno da escrava cidade! Vender alma e razão à impostura, Ir saudar a mentira em sua corte, Ajoelhar em seu trono à vaidade, Ter de rir nas angústias da morte, Chamar vida ao terror da verdade... Ai! não, não... nossa vida acabou, Nossa vida aqui toda ficou Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro, Dize à sombra dos montes erguidos, Dize-o ao verde do triste pinheiro, Dize-o a todos os sítios queridos Desta rude, feroz soledade, Paraíso onde livres vivemos, Oh! saudades que dele teremos, Que saudade! ai, amor, que saudade!
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 6:23 pm | |
| Ai, Helena!
Ai, Helena!, de amante e de esposo Já o nome te faz suspirar, Já tua alma singela pressente Esse fogo de amor delicioso Que primeiro nos faz palpitar! ... Oh!, não vás, donzelinha inocente, Não te vás a esse engano entregar: E amor que te ilude e te mente, É amor que te há-de matar! Quando o Sol nestes montes desertos Deixa a luz derradeira apagar, Com as trevas da noite que espanta Vêm os anjos do Inferno encobertos A sua vítima incauta afagar. Doce é a voz que adormece e quebranta, Mas a mão do traidor ...faz gelar. Treme, foge do amor que te encanta, É amor que te há-de matar.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 6:35 pm | |
| MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGEManuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage (Setúbal, 15 de Setembro de 1765 — Lisboa, 21 de Dezembro de 1805) foi um poeta português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano. Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX.Apesar das numerosas biografias publicadas após a sua morte, boa parte da sua vida permanece um mistério. Não se sabe que estudos fez, embora se deduza da sua obra que estudou os clássicos e as mitologias grega e latina, que estudou francês e também latim. A identificação das mulheres que amou é duvidosa e discutível.AUTO-RETRATO
Magro, de olhos azuis, carão moreno, Bem servido de pés, meão na altura, Triste de facha, o mesmo de figura, Nariz alto no meio, e não pequeno:
Incapaz de assistir num só terreno, Mais propenso ao furor do que à ternura; Bebendo em níveas mãos por taça escura De zelos infernais letal veneno:
Devoto incensador de mil deidades (Digo, de moças mil) num só momento E sômente no altar amando os frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento; Saíram dele mesmo estas verdades Num dia em que se achou mais pachorrento. | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 6:40 pm | |
| Importuna Razão, não me persigas
Importuna Razão, não me persigas; Cesse a ríspida voz que em vão murmura; Se a lei de Amor, se a força da ternura Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;
Se acusas os mortais, e os não abrigas, Se (conhecendo o mal) não dás a cura, Deixa-me apreciar minha loucura, Importuna Razão, não me persigas.
É teu fim, teu projecto encher de pejo Esta alma, frágil vítima daquela Que, injusta e vária, noutros laços vejo.
Queres que fuja de Marília bela, Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo É carpir, delirar, morrer por ela.
Bocage | |
| | | Fatima Berenguel Novato
Pais Residente : Localização : Lisboa Data de inscrição : 13/03/2008 Número de Mensagens : 155 Idade : 76 Humor : ser a criança que existe em nós
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 9:25 pm | |
| [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] Os pinheiros gemem quando passa o vento O sol bate no chão e as pedras ardem. Longe caminham os deuses fantásticos do mar Brancos de sal e brilhantes como peixes. Pássaros selvagens de repente, Atirados contra a luz como pedradas, Sobem e morrem no céu verticalmente E o seu corpo é tomado nos espaços. As ondas marram quebrando contra a luz A sua fronte ornada de colunas. E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro Baloiça nos pinheiros. Sophia de Mello Breyner Andresen | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 9:53 pm | |
| Negra fera, que a tudo as garras lanças
Negra fera, que a tudo as garras lanças, Já murchaste, insensível a clamores, Nas faces de Tirsália as rubras flores, Em meu peito as viçosas esperanças.
Monstro, que nunca em teus estragos cansas, Vê as três Graças, vê os nus Amores Como praguejam teus cruéis furores, Ferindo os rostos, arrancando as tranças!
Domicílio da noute, horror sagrado, Onde jaz destruída a formosura, Abre-te, dá lugar a um desgraçado.
Eis desço, eis cinzas palpo... Ah, Morte dura! Ah, Tirsália! Ah, meu bem, rosto adorado! Torna, torna a fechar-te, ó sepultura!
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 9:54 pm | |
| Soneto Ditado na Agonia
Já Bocage não sou!... À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura;
Conheço agora já quão vã figura, Em prosa e verso fez meu louco intento: Musa!... Tivera algum merecimento Se um raio da razão seguisse pura.
Eu me arrependo; a língua quasi fria Brade em alto pregão à mocidade, Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... a santidade Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia, Rasga meus versos, crê na eternidade!.
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 9:55 pm | |
| Ó retrato da morte! Ó Noite amiga Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga, Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti sòmente os diga Dá-lhes pio agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel que a delirar me obriga.
E vós, ó cortesãos da escuridade, Fantasmas vagos, mochos piadores, Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade, Quero fartar o meu coração de horrores. Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
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| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 9:56 pm | |
| Meu ser evaporei na luta insana Meu ser evaporei na luta insana Do tropel de paixões que me arrastava: Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava Em mim quasi imortal a essência humana!
De que inúmeros sóis a mente ufana Existência falaz me não dourava! Mas eis sucumbe Natureza escrava Ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus, e meus tiranos! Esta alma, que sedenta em si não coube, No abismo vos sumiu dos desenganos
Deus, ó Deus!... quando a morte a luz me roube, Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.
Bocage | |
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