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Autor | Mensagem |
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Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 9:55 pm | |
| Ó retrato da morte! Ó Noite amiga Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga, Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti sòmente os diga Dá-lhes pio agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel que a delirar me obriga.
E vós, ó cortesãos da escuridade, Fantasmas vagos, mochos piadores, Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade, Quero fartar o meu coração de horrores. Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 9:56 pm | |
| Meu ser evaporei na luta insana Meu ser evaporei na luta insana Do tropel de paixões que me arrastava: Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava Em mim quasi imortal a essência humana!
De que inúmeros sóis a mente ufana Existência falaz me não dourava! Mas eis sucumbe Natureza escrava Ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus, e meus tiranos! Esta alma, que sedenta em si não coube, No abismo vos sumiu dos desenganos
Deus, ó Deus!... quando a morte a luz me roube, Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 9:58 pm | |
| Das terras a pior tu és, ó Goa Das terras a pior tu és, ó Goa, Tu pareces mais ermo que cidade, Mas alojas em ti maior vaidade Que Londres, que Paris ou que Lisboa.
A chusma de teus íncolas pregoa Que excede o Grão Senhor na qualidade; Tudo quer senhoria; o próprio frade Alega, para tê-la, o jus da c'roa!
De timbres prenhe estás; mas oiro e prata Em cruzes, com que dantes te benzias, Foge a teus infanções de bolsa chata.
Oh que feliz e esplêndida serias, Se algum fusco Merlim, que faz bagata, Te alborcasse a pardaus as senhorias!
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 10:00 pm | |
| Quer ver uma perdiz chocar um rato Quer ver uma perdiz chocar um rato, Quer ensinar a um burro anatomia, Exterminar de Goa a senhoria, Ouvir miar um cão, ladrar um gato;
Quer ir pescar um tubarão no mato, Namorar nos serralhos da Turquia, Escaldar uma perna em água fria, Ver um cobra castiçar co'um pato;
Quer ir num dia de Surrate a Roma, Lograr saúde sem comer dois anos, Salvar-se por milagre de Mafoma;
Quer despir a bazófia aos Castelhanos, Das penas infernais fazer a soma, Quem procura amizade em vis gafanos.
Bocage | |
| | | Carla Carinhas Membros - Adm
Pais Residente : Localização : Brasil - Paraná - Curitiba Data de inscrição : 25/09/2007 Número de Mensagens : 6397 Idade : 59 Humor : Sempre Alegre
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 15, 2010 10:53 pm | |
| Visão Realizada Sonhei que a mim correndo o gnídeo nume Vinha coa Morte, co Ciúme ao lado, E me bradava: < Queres a Morte, ou queres o Ciúme? >>Não é pior daquela fouce o gume Que a ponta dos farpões que tens provado; Mas o monstro voraz, por mim criado, Quanto horror há no Inferno em si resume.>> Disse; e eu dando um suspiro: < Coa a vista dessa fúria!... Amor, clemência! Antes mil mortes, mil infernos antes!>> Nisto acordei com dor, com impaciência; E não vos encontrando, olhos brilhantes, Vi que era a minha morte a vossa ausência! Bocage | |
| | | Fatima Berenguel Novato
Pais Residente : Localização : Lisboa Data de inscrição : 13/03/2008 Número de Mensagens : 155 Idade : 76 Humor : ser a criança que existe em nós
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Ter Mar 16, 2010 12:07 am | |
| Perguntei à Natureza No seu alcançar sublime, Qual era o mais torpe crime Que infectava a redondeza? Ela, que meus cultos preza, E me franqueia o altar, Respondeu-me a prantear, Exalando um ai ansioso: - Ah! É o mais criminoso Quem pode deixar de amar! Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Ter Mar 16, 2010 12:09 am | |
| Ó trevas que enlutais a Natureza
Ó trevas, que enlutais a Natureza, Longos ciprestes desta selva anosa, Mochos de voz sinistra e lamentosa, Que dissolveis dos fados a incerteza;
Manes, surgidos da morada acesa Onde de horror sem fim Plutão se goza, Não aterreis esta alma dolorosa, Que é mais triste que voz minha tristeza.
Perdi o galardão da fé mais pura, Esperanças frustrei do amor mais terno, A posse de celeste formosura.
Volvei, pois, sombras vãs, ao fogo eterno; E, lamentando a minha desventura, Movereis à piedade o mesmo Inferno.
Bocage | |
| | | CastelaSimões Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Porto Data de inscrição : 17/05/2008 Número de Mensagens : 818 Idade : 76 Humor : q.b.
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Ter Mar 16, 2010 1:46 am | |
| JÁ BOCAGE NÃO SOU.....
Já Bocage não sou!... À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura Em prosa e verso fez meu louco intento. Musa!... Tivera algum merecimento, Se um raio da razão seguisse, pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria Brade em alto pregão à mocidade, Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... A santidade Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia, Rasga meus versos, crê na eternidade!
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qui Mar 18, 2010 7:59 pm | |
| Camões, grande Camões, quão semelhante
Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, Arrostar co'o sacrílego gigante.
Como tu, junto ao Ganges sussurante, Da penúria cruel no horror me vejo. Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura Meu fim demando ao Céu, pela certeza De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!... Se te imito nos transes da Ventura, Não te imito nos dons da Natureza.
Bocage | |
| | | Fatima Berenguel Novato
Pais Residente : Localização : Lisboa Data de inscrição : 13/03/2008 Número de Mensagens : 155 Idade : 76 Humor : ser a criança que existe em nós
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 22, 2010 7:18 am | |
| Ser doido-alegre, que maior ventura! Morrer vivendo p'ra além da verdade. É tão feliz quem goza tal loucura Que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura, Sem ver na esmola, a falsa caridade, Que bem no fundo é só vaidade pura, Se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso, A felicidade que esse doido tem De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso, Ai quem me dera ser doido também P'ra suportar melhor quem tem juízo.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..." | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 22, 2010 2:01 pm | |
| Nos campos o vilão sem susto passa Nos campos o vilão sem susto passa inquieto na corte o nobre mora; o que é ser infeliz aquele ignora, este encontra nas pompas a desgraça;
aquele canta e ri, não se embaraça com essas coisas vãs que o mundo adora; este (oh cega ambição!) mil vezes chora, porque não acha bem que o satisfaça;
aquele dorme em paz no chão deitado, este no ebúrneo leito precioso nutre, exaspera velador cuidado,
triste, sai do palácio majestoso. Se hás-de ser cortesão mas desgraçado, anter ser camponês e venturoso.
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 22, 2010 2:03 pm | |
| Sanhudo, inexorável Despotismo Sanhudo, inexorável Despotismo Monstro que em pranto, em sangue a fúria cevas, Que em mil quadros horríficos te enlevas, Obra da Iniquidade e do Ateísmo:
Assanhas o danado Fanatismo, Porque te escore o trono onde te enlevas; Por que o sol da Verdade envolva em trevas E sepulte a Razão num denso abismo.
Da sagrada Virtude o colo pisas, E aos satélites vis da prepotência De crimes infernais o plano gizas,
Mas, apesar da bárbara insolência, Reinas só no ext'rior, não tiranizas Do livre coração a independência Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 22, 2010 2:05 pm | |
| Incultas produções da mocidade Incultas produções da mocidade Exponho a vossos olhos, ó leitores: Vede-as com mágoa, vede-as com piedade, Que elas buscam piedade, e não louvores:
Ponderai da Fortuna a variedade Nos meus suspiros, lágrimas e amores; Notai dos males seus a imensidade, A curta duração de seus favores:
E se entre versos mil de sentimento Encontrardes alguns cuja aparência Indique festival contentamento,
Crede, ó mortais, que foram com violência Escritos pela mão do Fingimento, Cantados pela voz da Dependência.
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Mar 24, 2010 8:57 pm | |
| Apenas vi do dia a luz brilhante Apenas vi do dia a luz brilhante Lá de Túbal no empório celebrado, Em sanguíneo carácter foi marcado Pelos Destinos meu primeiro instante.
Aos dois lustros a morte devorante Me roubou, terna mãe, teu doce agrado; Segui Marte depois, e em fim meu fado Dos irmãos e do pai me pôs distante.
Vagando a curva terra, o mar profundo, Longe da pátria, longe da ventura, Minhas faces com lágrimas inundo.
E enquanto insana multidão procura Essas quimeras, esses bens do mundo, Suspiro pela paz da sepultura.
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Mar 29, 2010 8:13 pm | |
| Neste horrível sepulcro da existência Neste horrível sepulcro da existência O triste coração de dor se parte; A mesquinha razão se vê sem arte, Com que dome a frenética impaciência:
Aqui pela opressão, pela violência Que em todos os sentidos se reparte, Transitório poder que imitar-te, Eterna, vingadora omnipotência!
Aqui onde o peito abrange, e sente, Na mais ampla expressão acha estreiteza, Negra idéia do abismo assombra a mente.
Difere acaso da infernal tristeza Não ver terra, nem céu, nem mar, nem gente, Ser vivo, e não gozar da Natureza ?
Bocage | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Mar 31, 2010 12:06 am | |
| Antero de Quental O nome de Antero de Quental (Ponta Delgada, 18/IV/1842 - 11/IX/1891, ib.) tornou-se no símbolo de uma geração (a Geração de 70 ou a Geração de Antero) e é referência obrigatória na poesia, no ensaio filosófico e literário, no jornalismo, mas também nas lutas pela liberdade de pensamento e pela justiça social, onde se afirmou como ideólogo destacado. Os Sonetos de Antero, o seu primeiro livro de poesia, data de 1860, e em 1865 publica Odes Modernas, obra por si caracterizada como "a voz da Revolução", resultante da aliança entre o naturalismo hegeliano e o humanismo radical francês de Michelet, Renan e Proudhon. O Que Diz A MorteDeixai-os vir a mim, os que lidaram; Deixai-os vir a mim, os que padecem; E os que cheios de mágoa e tédio encaram As próprias obras vãs, de que escarnecem... Em mim, os Sofrimentos que não saram, Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem. As torrentes da Dor, que nunca param, Como num mar, em mim desaparecem. - Assim a Morte diz. Verbo velado, Silencioso intérprete sagrado Das cousas invisíveis, muda e fria, É, na sua mudez, mais retumbante Que o clamoroso mar; mais rutilante, Na sua noite, do que a luz do dia. Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Mar 31, 2010 12:09 am | |
| Na Mão De Deus
Na mão de Deus, na sua mão direita, Descansou afinal meu coração. Do palácio encantado da Ilusão Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais, com que se enfeita A ignorância infantil, despôjo vão, Depus do Ideal e da Paixão A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada, Que a mãe leva ao colo agasalhada E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto... Dorme o teu sono, coração liberto, Dorme na mão de Deus eternamente!
Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Mar 31, 2010 12:50 am | |
| Evolução
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo tronco ou ramo na incógnita floresta... Onda, espumei, quebrando-me na aresta Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo Na caverna que ensombra urze e giesta; O, monstro primitivo, ergui a testa No limoso paul, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme Vejo, a meus pés, a escada multiforme, Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro... Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro E aspiro unicamente à liberdade.
Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qui Abr 01, 2010 6:16 pm | |
| Oceano Nox
Junto do mar, que erguia gravemente A trágica voz rouca, enquanto o vento Passava como o vôo do pensamento Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente, Olhando o céu pesado e nevoento, E interroguei, cismando, esse lamento Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura, Seres elementares, força obscura? Em volta de que idéia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde O Inconsciente imortal, só me responde Um bramido, um queixume, e nada mais...
Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Ter Abr 06, 2010 11:19 pm | |
| Nocturno
Espírito que passas, quando o vento Adormece no mar e surge a Lua, Filho esquivo da noite que flutua, Tu só entendes bem o meu tormento...
Como um canto longínquo - triste e lento- Que voga e sutilmente se insinua, Sobre o meu coração que tumultua, Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva Um instinto de luz, rompendo a treva, Buscando, entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome, A febre de Ideal, que me consome, Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!
Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Sex Abr 09, 2010 11:37 pm | |
| Lacrimae Rerum
Noite, irmã da Razão e irmã da Morte, Quantas vezes tenho eu interrogado Teu verbo, teu oráculo sagrado, Confidente e intérprete da Sorte!
Aonde são teus sóis, como corte De almas inquietas, que conduz o Fado? E o homem porque vaga desolado E em vão busca a certeza que o conforte?
Mas, na pompa de imenso funeral, Muda, a noite, sinistra e triunfal, Passa volvendo as horas vagarosas...
É tudo, em torno a mim, dúvida e luto; E, perdido num sonho imenso, escuto O suspiro das coisas tenebrosas...
Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Sex Abr 16, 2010 9:36 pm | |
| O Palácio da Ventura
Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sóis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada já, rota a armadura... E eis que súbito o avisto, fulgurante Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado: Eu sou o Vagabundo, o Deserdado... Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor... Mas dentro encontro só, cheio de dor, Silêncio e escuridão - e nada mais!
Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Sex Abr 23, 2010 12:28 am | |
| Transcedentalismo
Já sossega, depois de tanta luta, Já me descansa em paz o coração. Caí na conta, enfim, de quanto é vão O bem que ao Mundo e à Sorte se disputa.
Penetrando, com fronte não enxuta, No sacrário do templo da Ilusão, Só encontrei, com dor e confusão, Trevas e pó, uma matéria bruta...
Não é no vasto Mundo - por imenso Que ele pareça à nossa mocidade - Que a alma sacia o seu desejo intenso...
Na esfera do invisível, do intangível, Sobre desertos, vácuo, soledade, Voa e paira o espírito impassível!
Antero de Quental | |
| | | Lopes Novato
Localização : Portugal Data de inscrição : 10/02/2008 Número de Mensagens : 288 Idade : 76 Humor : muita calma nessa horal
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Seg Abr 26, 2010 12:56 am | |
| UMA AMIGA Aqueles que eu amei,não sei que vento os dispersou no mundo,que os não vejo... Estendo os braços e nas trevas beijo Visões que a noite evoca o sentimento... Outros me causam mais cruel tormento Que a saudade dos mortos...que eu invejo... Passam por mim...mas como que teem pejo Da minha soledade e abatimento! Daquela primavera venturosa Não resta uma flor só,uma só rosa... Tudo o vento varreu,queimou o gelo! Tu só foste fiel-Tu, como dantes, Inda volves teus olhos radiantes... Para ver meu mal...e escarnece-lo! ANTERO DE QUENTAL | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Abr 28, 2010 1:57 pm | |
| A um poeta
Tu que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno Afugentou as larvas tumulares... Para surgir do seio desses mares Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! É a grande voz das multidões! São teus irmãos, que se erguem! São canções... Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro, E dos raios de luz do sonho puro, Sonhador, faze espada de combate! Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qua Abr 28, 2010 2:00 pm | |
| NIRVANA
Para além do Universo luminoso, Cheio de formas, de rumor, de lida, De forças, de desejos e de vida, Abre-se como um vácuo tenebroso.
A onda desse mar tumultuoso Vem ali expirar, esmaecida… Numa imobilidade indefinida Termina ali o ser, inerte, ocioso…
E quando o pensamento, assim absorto, Emerge a custo desse mundo morto E torna a olhar as coisas naturais,
A bela luz da vida, ampla, infinita, Só vê com tédio, em tudo quanto fita, A ilusão e o vazio universais.
Antero de Quental | |
| | | Maria Ernestina Carvalho Membros Ativos
Pais Residente : Localização : Portugal Data de inscrição : 11/05/2008 Número de Mensagens : 4487 Idade : 74
| Assunto: Re: Poetas Portugueses Qui Abr 29, 2010 11:11 pm | |
| Pequenina
Eu bem sei que te chamam pequenina E ténue como o véu solto na dança Que és no juízo apenas a criança, Pouco mais, nos vestidos, que a menina...
Que és o regato de água mansa e fina, A folhinha do til que se balança, O peito que em correndo logo cansa, A fronte que ao sofrer logo se inclina...
Mas, filha, lá nos montes onde andei, Tanto me enchi de angústia e de receio Ouvindo do infinito os fundos ecos,
Que não quero imperar nem já ser rei Senão tendo meus reinos em teu seio E súbditos, criança, em teus bonecos! Antero de Quental | |
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